A Origem da Imagem
No Convento da Caloura, em Água de Pau, começa a história do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em S. Miguel. Reza a tradição que foi neste lugar que se erigiu o primeiro Convento de Religiosas nesta Ilha, convento cuja fundação se deveu, principalmente, à piedade das filhas de Jorge da Mota, de Vila Franca do Campo.
Mas para que tal comunidade fosse estabelecida como devia, foi necessário que alguém fosse a Roma impetrar a respectiva Bula Apostólica. Largaram, por isso, de S. Miguel a caminho da Cidade Eterna, duas religiosas. Aí solicitaram ao Papa o desejado documento. Tão bem se desempenharam dessa missão que o Sumo Pontífice não só lhes passou a ambicionada Bula como ainda lhes ofereceu uma Imagem do Ecce Homo. De regresso a Vale de Cabaços, a singular imagem foi posta num nicho onde se conservou por poucos anos.
Porque o lugar era ermo e muito exposto às incursões dos piratas, o pequeno Mosteiro ficou, certo dia, deserto, pois parte das religiosas seguiu para Santo André, de Vila Franca do Campo, e a outra parte se encaminhou para Ponta Delgada, para o Mosteiro da Esperança, acabado de fundar pela viúva do Capitão Donatário, Rui Gonçalves da Câmara.
Mas a Imagem do Senhor Santo Cristo não ficou esquecida em Vale de Cabaços, porque a religiosa galega Madre Inês de Santa Iria a quis trazer para Ponta Delgada.
A primeira procissão
No ano de 1700, a Ilha de S. Miguel foi abalada por fortes e repetidos
tremores de terra. Duravam estes já vários dias quando a Mesa da
Misericórdia e grande parte da nobreza da cidade, vendo que os
terramotos não cessavam, resolveram ir à portaria do Mosteiro da
Esperança para levarem em procissão a Imagem do Santo Cristo.
Ao princípio da tarde desse dia 13 de Abril de 1700, juntaram-se as
confrarias e comunidades religiosas. Concorreu igualmente toda a nobreza
e inumerável multidão que, com viva fé, confiava se aplacaria a
indignação divina com vista da santa Imagem.
Caminhava já a procissão em que todos iam descalços; e logo que a
veneranda Imagem se deixou ver na portaria, foi tão grande a comoção em
todos que a traduziram em lágrimas e suspiros, testemunhos irrefragáveis
da contrição dos corações.
Levaram o andor do Santo Cristo as pessoas mais qualificadas em nobreza.
Andando a procissão, ia a veneranda Imagem entrando em todas as igrejas
onde, em bem concertados coros, Lhe cantavam os salmos "Miserere mei
Deus".
Saindo da Igreja dos Jesuítas, e caminhando para a das Religiosas de
Santo André, não obstante toda a boa segurança e a cautela com que
levavam a santa Imagem, com assombro e admiração de todos, caiu esta
fora do andor e deu em terra. Foi esta queda misteriosa, porque não caiu
a Imagem por algum dos lados do andor, como era natural, senão pela
parte superior do docel.
O povo ficou aflito com sucesso tão estranho. Uns feriam os peitos com
as pedras; outros, pondo a boca em terra, que julgavam santificada com o
contacto da santa Imagem, pediam a Deus misericórdia; estes, tomando os
instrumentos de penitência, davam sobre si rijos e desapiedados golpes,
regando a terra com o sangue das veias; aqueles publicavam em alta voz
as suas culpas, como causas da indignação do Senhor; e todos, com
clamores e enternecidos suspiros, pediam a Deus que suspendesse as
demonstrações da sua justa vingança.
Verificaram, então, que a santa Imagem não experimentara com a queda
dano considerável, pois somente se observou no braço direito uma
contusão. A Imagem foi lavada e limpa no Convento de Santo André e,
colocada outra vez no andor com a maior segurança, continuou a
procissão, na qual as lágrimas e soluços do povo aflito embargavam as
preces, até que, bem de noite, se recolheu no Mosteiro da Esperança.
E a cólera divina se aplacou.
Informação: http://www.acores.net/santocristo/index.php
Imagem: http://3.bp.blogspot.com
Senhor Santo Cristo dos Milagres o melhor de todo o mundo!
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